Amigo do esporte,
quando comecei a gostar de futebol, jamais poderia imaginar que esse jogo mudasse tanto. Naquela época, não se tinha tantos jogos como agora. Existiam os campeonatos regionais, o torneio Rio-São Paulo e a Taça Brasil para os clubes.
O Rio-São Paulo era maravilhoso. Reunia as grandes equipes do eixo e tínhamos o Santos incomparável de Pelé, o Botafogo fantástico de Garrincha e todos os times tinham pelo menos um craque. Mas craque de verdade! Grandes duelos eram protagonizados por grandes equipes.
Os campeonatos regionais tinham uma enorme importância. E foi assim até meados da década de 80, quando o Campeonato Nacional passou a ser a grande vitrine. A Taça Brasil reunia os campeões de cada Estado Brasileiro. E a cereja do bolo era o Campeonato Brasileiro de Seleções. Nossa! A Seleção Paulista tinha vários craques que enfrentavam geralmente na final a Seleção Carioca, também recheada de cracaços.
A Seleção Brasileira quando convocada, excursionava por um mês ou até mais pela Europa. Todos os jogadores eram de clubes brasileiros, o que fazia com que o apelo popular fosse apaixonante. Discutia-se convocações, vibrávamos com as vitórias. Esse era o verdadeiro futebol. Um calendário tranquilo, jogador ganhando um salário bom, mas condizente com a profissão, tinha o chamado "bicho" por vitória que era o complemento do ganho do jogador.
Dava gosto ir ao Estádio. Não havia divisão de torcida. O máximo que acontecia era uma discussão, um empurra-empurra logo contornado pela turma do "deixa disso". Assistíamos a verdadeiros espetáculos protagonizados por craques, verdadeiros artistas da bola, mas que se achavam apenas atletas. Quantos gênios se defrontavam em jogos memoráveis. E se havia algum entrevero, ficava no gramado, pois eram amigos, tinham respeito pelo adversário acima de tudo.
Grandes árbitros contribuíram para os espetáculos. Grandes narradores, grandes comentaristas, tudo contribuía para que o futebol fosse apreciado, degustado. Afinal, quem não queria ver Pelé, Garrincha, Rivellino, Ademir da Guia, Gérson, Coutinho, Pedro Rocha, Dino Sani, Luís Pereira e tantos, mas tantos outros, que poderia aqui citar pelo menos cinquenta jogadores de qualidade indiscutível. E estou falando só de São Paulo. No Rio, além de Mané, tinha Dida, o mesmo Gérson, Quarentinha, Castilho, Pinheiro, Sabará, Joel, vários monstros sagrados.
Como era gostoso esperar pela quarta-feira e pelo domingo para ir ao Estádio. E que delícia acompanhar as excursões da Seleção pela Europa jogando contra grandes seleções e conseguindo resultados espetaculares, colocando nosso futebol no mais alto degrau da beleza e perfeição.
Hoje não existe mais esse jogo. Costumo dizer que o futebol acabou na semifinal da Copa de 82 quando o Brasil sofreu uma derrota sentida para a Itália. A partir dali,o futebol espetáculo deu lugar ao futebol de resultado. Mas é o que temos para o momento. Quem viu, viu. Quem não viu ainda consegue ver um pouco de graça num jogo onde a bola fica mais parada do que rolando e os artistas encenam cada vez mais contusões e cotoveladas.
Esse é o novo futebol. Que até deveria mudar de nome. Depois de tudo o que foi visto, esse jogo não merece ser chamado de futebol! Até mais!
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